terça-feira, 1 de março de 2011

Gruta da Lapinha ganha iluminação com 16 milhões de tonalidades

Publicação: 29/09/2010 06:27 Atualização: 29/09/2010 06:57
<>Sistema não apenas vai encantar visitantes, mas também ajudar na preservação do ambiente (BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)
Sistema não apenas vai encantar visitantes, mas também ajudar na preservação do ambiente
As cores vão do branco ao âmbar, passeando por 16 milhões de tonalidades diferentes para criar um cenário que, se já era espetacular, se torna ainda mais grandioso em sua história, beleza e encantamento. A Gruta da Lapinha, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, passou na tarde de terça-feira, com nota 10, por um teste que realça os salões cobertos de estalagtites e estalagmites e valoriza ainda mais as formações calcárias datadas de 600 milhões de anos. Satisfeito e emocionado, o secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho acionou, pela primeira vez, a nova iluminação dessa joia da região cárstica, que consiste num sistema de lâmpadas do tipo LED (sigla em inglês para diodos emissores de luz).

“Com estas luzes coloridas, a Lapinha fica parecendo uma catedral, com a diferença de que, neste caso, foi obra do próprio Criador. A natureza, aqui, ganha de Leonardo Da Vinci”, disse Carvalho, enquanto observava o Salão das Cataratas, logo na entrada da gruta, que deverá ser reaberta em março, depois de receber investimento do governo estadual de cerca de R$ 4 milhões. Um dos pontos mais visitados de Minas, com cerca de 20 mil pessoas/ano e atualmente fechado para o turismo, o patrimônio natural e cultural é um dos expoentes da área de proteção ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa e do Parque Estadual do Sumidouro, administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF).

Também ontem, o secretário visitou as obras do Centro Receptivo Peter W. Lund – batizado em homenagem ao paleontólogo dinamarquês conhecido como dr. Lund (1801-1880) – o que torna a Lapinha a primeira gruta do país a ganhar uma estrutura, de 500 metros quadrados e dois andares, especialmente projetada para atender os visitantes. O prédio em construção terá charme bem particular, garantido por estruturas como uma passarela entre árvores, por onde os turistas vão chegar ao monumento e já entrar no clima de aventura, diversão e conhecimento. “O prédio vai ficar meio ‘na moita’, sem interferir na paisagem deslumbrante que a Lapinha oferece”, brincou Carvalho, acompanhado da coordenadora do Projeto Rota Lund, Natasha Nunes, e do coordenador do Sistema de Áreas Protegidas do Vetor Norte/IEF, Roberto Alvarenga.

Mas ontem, mais do que nunca, o dia era das cores da atração maior do local, principalmente quando as primeiras luzes se acenderam para tornar a Lapinha uma festa para os sentidos. No lugar dos antigos holofotes, que aumentavam a temperatura do ambiente e provocavam o surgimento de fungos nos minerais, surgiram azuis magníficos, tons róseos, âmbar, branco e outros surpreendentes. O mais impressionante, no entanto, era ver vários ambientes iluminados ao mesmo tempo, num efeito que aumenta a profundidade e permite a perfeita harmonia entre o chão, as paredes e o teto esculpido pelo tempo. Alvarenga destacou que todas as escadas de metal existentes no interior da gruta manterão as luzes de segurança acesas permanentemente, para maior tranquilidade dos visitantes. Salão das cortinas, sala da filtração, figura da medusa – cada forma ganha ainda mais destaque diante dos olhos com o novo sistema. No lado de fora, já chama atenção de quem chega a demolição do antigo restaurante, o que permite que se enxergue o paredão da gruta. O local vai ganhar paisagismo novo.

Intercâmbio científicoNo receptivo turístico, ficará a exposição permanente com cerca de 70 fósseis do Museu Zoológico de Copenhague, que serão cedidos pelo governo da Dinamarca em regime de comodato, explicou Natasha Nunes, adiantando que este mês será assinado um acordo de cooperação com a instituição escandinava. Durante as mais de quatro décadas em que viveu na região de Lagoa Santa, Lund enviou ao seu país uma coleção com 12.622 peças, a maioria encontrada na Gruta Lapa Vermelha – destruída por uma empresa na década de 1970, para fazer o tesouro natural virar sacos de cimento. O acordo inicial para a transferência do material foi selado no ano passado por Natasha, pelo professor da PUC Minas Castor Cartelli e por autoridades dinamarquesas. O receptivo terá museu, reserva técnica do acervo, auditório, sala de reuniões, banheiros, vestiário, estacionamento e lanchonete. A Rota Lund demandou recursos do governo estadual de R$ 11 milhões.

“Além do lado turístico, é preciso destacar a importância científica da Lapinha. O nosso objetivo é criar um intercâmbio com a Dinamarca, para fomentar as pesquisas paleontológicas. A gruta será um museu aberto”, disse o secretário. Também ontem, ele visitou as grutas do Rei do Mato (25 mil visitantes/ano), em Sete Lagoas, cujas obras de infraestrutura serão concluídas em dezembro, e Maquiné (40 mil visitantes/ano), em Cordisburgo, prevista para o ano que vem. Os dois monumentos, que ganharam iluminação nova, fazem parte da Rota Lund, destino turístico que integra ainda o Museu de História Natural da PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste de BH, e o Parque do Sumidouro.

Monumento à beleza

A Gruta da Lapinha, a 48 quilômetros de Belo Horizonte pela Linha Verde, fica em um maciço calcário formado há 600 milhões de anos. Foi descoberta em 1835 por Peter W. Lund, considerado o pai da paleontologia brasileira. Ele pesquisou toda a região e descobriu, em 1840, restos de fósseis do primeiro homem americano da raça de Lagoa Santa, além de animais pré-históricos, como o tigre dente-de-sabre e a preguiça-gigante.

No interior da cavidade, chamam a atenção as formações minerais de estalactites (no teto, resultantes do gotejamento de água) e estalagmites (no chão). Devido a essas formas, os 12 salões ganharam nomes sugestivos e curiosos, como Couve-flor, Cascata, Pirâmide, Presépio e Catedral.

Até hoje, Lund é a principal referência para estudiosos da paleontologia de mamíferos no Brasil, sendo o primeiro a registrar a presença de pinturas rupestres e a entrar em algumas das mais de 800 cavernas que explorou na região.

Com os milhares de fósseis que descobriu, o naturalista dinamarquês escreveu a história do período pleistoceno brasileiro. Criou a base para uma ecologia nacional, ao convidar o botânico Eugene Warming para fazer um levantamento do cerrado da região de Lagoa Santa, que originou trabalho publicado em 1840.

Um comentário:

  1. A gruta da Lapinha faz parte de um roteiro turístico de Minas Gerais, é reconhecida mundialmente e neste fato evidencia a importância de se valorizar o patrimônio e as belezas existentes em cada local para se estabelecer parcerias e ganhar prestígio. Neste caso, verfica-se a presença da arquitetura num estudo da paisagem do local para se escolher a melhor iluminação, o local ideal para as edificações a serem feitas, e a demolição daquelas que prejudicam a visualição do local, além de projeto paisagístico que juntos contextualizarão o local.

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