terça-feira, 22 de março de 2011

O tempo está passando

10/03/2011
 
Cidades que estão num raio de até 200 quilômetros de Belo Horizonte devem lucrar com turistas da Copa de 2014. Faltam três anos

sérgio santiago
 
 
Brasileiro tem fama de deixar tudo para a última hora. Na região do Médio Piracicaba, no que diz respeito à preparação para as oportunidades de negócios da Copa de 2014 no Brasil, parece que é o que está acontecendo. Já é 2011 e pouco se ouve falar em investimento em estrutura, produtos e serviços para atender aos visitantes de todo o mundo. São reais as chances de a economia regional ser o destino dos milhões que virão nos bolsos dos estrangeiros – e até mesmo de brasileiros – em busca de lazer. Mas a preparação é indispensavelmente necessária.
 
O presidente da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Agropecuária de Itabira (Acita), José Antônio Reis Lopes, ressalta a necessidade de as empresas privadas e os setores públicos reunirem-se para estabelecer ações voltadas aos dois grandes eventos marcados para os próximos anos: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
 
Ele explica que o planejamento precisa de tempo, mas que não houve nenhuma discussão até o momento na cidade sobre investimentos a serem feitos. “A iniciativa privada e o setor público devem sentar, conversar e achar caminhos agora”, afirma. José Antônio disse que vai levar a proposta de discussão ao prefeito João Izael nos próximos dias, convidando os responsáveis pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo (SMDET).
 
Um projeto que integre as entidades, como Acita e Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), é o que propõe o presidente da entidade que representa o varejo, Gil César Lopes, também de Itabira. “Se tivermos um projeto, nossa cidade vai sair muito à frente. Os setores de hotelaria e restaurante vão lucrar com os pontos turísticos que temos, como os Caminhos Drummondianos e o Museu do Tropeiro, além das riquezas naturais”, detalhou César que, além de ser empresário do ramo de eletrodomésticos, também atua no setor hoteleiro.
 
José Antônio e César acreditam que, se os homens públicos e os empresários juntarem forças, há a possibilidade de se construir até um centro de treinamento para abrigar alguma seleção no município. Mas tem de haver um projeto que contemple a questão econômica, turística, urbana entre outras. Se a mídia participar, divulgando as ações, os resultados podem ser ainda mais positivos, acreditam os empresários.
 
Numa apresentação na sede da Amepi no ano passado, o consultor em Projetos Turísticos e professor Mário Braga Corrêa, bacharel em Turismo, especialista em Turismo Rural, na Itália, e mestre em Comércio Internacional, na Argentina, lembrou que há recursos públicos da ordem de R$ 200 milhões disponíveis com o prazo máximo de captação até 2012. “Quem quiser participar do privilégio de se fortalecer financeiramente para a Copa de 2014 tem que agir a partir de agora”, desafiou.
 
Os recursos disponíveis têm como meta fortalecer as áreas de saneamento e educação. A primeira será para melhorar a infraestrutura das cidades; a segunda, principalmente para preparar profissionais para um segundo idioma, de preferência o inglês e o espanhol. O setor hoteleiro vai, de acordo com ele, necessitar de grande expansão e aprimoramento.
 
Otimismo
Apesar do relativo pouco tempo para preparação, os empresários estão achando uma excelente ideia ter dois eventos de tal magnitude no país com intervalo de dois anos. A vantagem é que, se houver uma preparação para a Copa, que será o primeiro, ela pode, com alguns ajustes, servir à Olimpíada.
 
O empresário Nilton Aney de Oliveira (Tain) diz que Itabira tem uma boa estrutura, principalmente porque abriga muita demanda da Vale e de suas empreiteiras. Mas precisa melhorar. Os hotéis, por exemplo, área de sua atuação, passaram por momentos de dificuldade na crise que afetou o mundo em 2008/2009. Agora eles vivem um novo cenário, cheio de expectativas não só com o evento esportivo, que durará não mais que algumas semanas, mas com os investimentos bilionários da mineração na cidade e região.
 
Seguindo o raciocínio de Tain, a preocupação com o atendimento, a qualidade dos serviços e os produtos oferecidos, precisa ser ainda maior, já que na região, não se trata apenas do turismo esportivo. Mas ele também concorda que a classe empresarial ainda não começou a agir. “Temos grande esperança de que, um ano antes da Copa, a gente já comece a receber pedidos de reservas para hotéis. Podíamos também reformar o Valério para receber alguma agremiação. Seria muito bom para a nossa economia”, detalhou.
 
Alguns gargalos, que devem ser solucionados pelo poder público, também são ameaças. É o caso da BR-381, tão discutida e tão acusada como a causa de entrave do desenvolvimento da região. A “rodovia da morte” chegou a ser comparada pelo presidente da Amepi, prefeito de Dom Silvério, José Maria Repolês, como tão trágica quanto o desastre da região serrana do Rio de Janeiro. Uma alternativa à estrada assassina seria um aeroporto, mas o projeto também não decolou ainda.
 
Os problemas são apontados, inclusive, pelo presidente da Acita, José Antônio. César, da CDL, acredita que até 2014, pelo menos o problema da rodovia estará solucionado e destaca o pós-copa e pós-olimpíada. “Quando acontecem eventos como esses, não são somente aquelas poucas semanas de atividades internas. Tanto a Copa quanto às Olimpíadas despertarão o interesse das pessoas em conhecer o país”, detalha César, ao citar como exemplo, a África do Sul: “Antes, pouca gente se interessava em conhecê-la; agora – com a divulgação quase sempre positiva da imprensa – virou destino turístico do mundo inteiro”, esclarece.
 
Quanto aos setores que serão mais beneficiados estão o turismo, os espaços esportivos (que receberiam alguns atletas que jogassem em BH), e os setores de produtos e serviços (já que as empresas locais poderiam ser as fornecedoras do evento).
 
Marcha lenta
As demais cidades da região do Médio Piracicaba ainda não desenvolveram projetos para alavancar a economia em 2014 e 2016. O passo lento, na verdade, é explicado pelos responsáveis pela fomentação da cultura, turismo e economia como uma normalidade característica da política do interior.
 
Essa também é a opinião de algumas entidades de classe. Elas acreditam que há um longo tempo para se apresentar projetos e estudar a sua viabilização. A organização dos municípios, principalmente daqueles que compõem a Amepi, será o primeiro passo na preparação para o maior evento esportivo do mundo.
 
A turismóloga Lívia de Paiva Pacheco, gestora do Circuito Serra do Cipó (AMPASC), disse que os seis municípios (Conceição do Mato Dentro, Congonhas do Norte, Dom Joaquim, Jaboticatubas, Nova União e Santana do Riacho), que compõem o circuito, estão se organizando. Com nove anos, o Circuito está trabalhando, segundo Lívia, em quatro vertentes básicas na preparação das cidades associadas para o aumento do fluxo turístico no período dos eventos dos próximos anos. São eles: estruturação de produtos turísticos, que fortaleçam o grande diferencial da região (prática de atividades junto à natureza, como a criação de mais de 50 trilhas de caminhada, cicloturismo e escalada nos seis municípios associados); capacitação da mão de obra local por meio de cursos realizados em parceria com o Senac e Senar, e seminários para discussão coletiva dos impactos dos eventos na região; apresentação da região da Serra do Cipó como um atrativo turístico de Belo Horizonte, aproveitando, assim, a proximidade dos municípios com a capital mineira; e criação de uma ferramenta de comercialização dos produtos turísticos do Circuito Serra do Cipó para os turistas nacionais e internacionais.
 
Desde fevereiro de 2010, o Circuito vem trabalhando na criação de um portal virtual, em que o turista poderá comprar diárias em hotéis e pousadas, ingressos para passeios e até artesanato, além de estar integrado às mídias sociais e apresentar conteúdo em quatro idiomas.
 

Um comentário:

  1. Este fato aponta para a preocupação para a chegada da Copa do Mundo e Olimpíadas, as cidades não estão se preparando, existem recursos financeiros disponíveis, mas as cidades não dispõem de projetos para liberação de verba. O circuito serra do cipó, se mostra interessado nesta oportunidade de alavancar seus roteiros e mostra algumas medidas preparatórias para receber os turístas. O arquiteto pode atuar nestes casos, no setor de pesquisa e contextualização das localidades, afim de propor projetos que evidenciem a essência de cada lugar.

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